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FELIZ REGRESSO • Cornélio Pires |
– “Casar com minha filha? Isto é loucura!...” Falando assim, Nhô Nico da Cancela Mandou matar Totonho de Nhá Bela, Recusando-lhe a filha Nhá Belura. Mas a jovem, conquanto a desventura, Acabou desposando João Portela... E Totonho voltando, nasceu dela, Um prodígio de choro e de doçura. Nhô Nico, o avô feliz, que andava inquieto, Encantou-se de todo, vendo o neto Ao guardá-lo nos braços de carinho... Dias depois, falou de olhos em brasa: – “Ninguém tire o menino, aqui de casa, Que eu não posso viver sem meu netinho." (Soneto recebido pelo médium Francisco Cândido Xavier, em reunião pública do Grupo Espírita da Prece, na noite de 10/01/1976, em Uberaba, MG) |
VIAGEM DE IDA E VOLTA • J. Herculano Pires (Irmão Saulo) Na forma breve e simples de um sonho caipira, Cornélio Pires nos mostra como funciona a justiça de Deus, transformando a pena ou castigo do criminoso em processo de reajuste afetivo. A reencarnação é a nossa passagem de volta na viagem da morte. Todos morremos no corpo animal e ressuscitamos no corpo espiritual, como já ensinava o apóstolo Paulo à comunidade cristã de Corinto. Assim, a ressurreição espiritual é a nossa passagem de ida. Vamos e voltamos tantas vezes quantas necessárias à nossa evolução. Por isso, Plotino, o filósofo do neoplatonismo, referia-se à “alma viajora”, que para Kardec seria o “espírito errante”, ou seja, que permanece viajando entre a Terra e o céu, até que possa fixar o seu verdadeiro domicílio nas regiões celestes. Deus se serve, por assim dizer, desse processo para eliminar os ressentimentos entre as criaturas. O Totonho de Nhá Bela, no soneto de Cornélio, despachado em viagem forçada por Nhô Tonico da Cancela, volta mais tarde como neto do assassino, que a ele se apega sem suspeitar que o menino era precisamente o jovem que ele mandara matar. Uma vida nova, entretecida de amor e carinho entre os dois, apagará no tempo o ódio que poderia fermentar ao longo de encarnações sucessivas. Nhô Tonico recebe o moço de volta em seu lar, através da filha que lhe negara em casamento. Dessa maneira, cede seu próprio sangue para reencarnação da vítima e vai criá-lo de novo na Terra, devolvendo-lhe a vida carnal e o corpo que lhe havia roubado. A justiça divina é temperada de misericórdia, pois objetiva o amor e não a vingança. |