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segunda-feira, 18 de junho de 2012

Feliz Regresso

Artigo publicado originalmente na coluna dominical "Chico Xavier pede licença"
do jornal Diário de S. Paulo, na década de 1970.





FELIZ REGRESSO •  Cornélio Pires

– “Casar com minha filha? Isto é loucura!...”
Falando assim, Nhô Nico da Cancela
Mandou matar Totonho de Nhá Bela,
Recusando-lhe a filha Nhá Belura.

Mas a jovem, conquanto a desventura,
Acabou desposando João Portela...
E Totonho voltando, nasceu dela,
Um prodígio de choro e de doçura.
Nhô Nico, o avô feliz, que andava inquieto,
Encantou-se de todo, vendo o neto
Ao guardá-lo nos braços de carinho...
Dias depois, falou de olhos em brasa:
– “Ninguém tire o menino, aqui de casa,
Que eu não posso viver sem meu netinho."
(Soneto recebido pelo médium Francisco Cândido Xavier, em reunião pública do Grupo Espírita da Prece, na noite de 10/01/1976, em Uberaba, MG)


VIAGEM DE IDA E VOLTA •  J. Herculano Pires (Irmão Saulo)

Na forma breve e simples de um sonho caipira, Cornélio Pires nos mostra como funciona a justiça de Deus, transformando a pena ou castigo do criminoso em processo de reajuste afetivo. A reencarnação é a nossa passagem de volta na viagem da morte. Todos morremos no corpo animal e ressuscitamos no corpo espiritual, como já ensinava o apóstolo Paulo à comunidade cristã de Corinto. Assim, a ressurreição espiritual é a nossa passagem de ida. Vamos e voltamos tantas vezes quantas necessárias à nossa evolução. Por isso, Plotino, o filósofo do neoplatonismo, referia-se à “alma viajora”, que para Kardec seria o “espírito errante”, ou seja, que permanece viajando entre a Terra e o céu, até que possa fixar o seu verdadeiro domicílio nas regiões celestes.
Deus se serve, por assim dizer, desse processo para eliminar os ressentimentos entre as criaturas. O Totonho de Nhá Bela, no soneto de Cornélio, despachado em viagem forçada por Nhô Tonico da Cancela, volta mais tarde como neto do assassino, que a ele se apega sem suspeitar que o menino era precisamente o jovem que ele mandara matar.
Uma vida nova, entretecida de amor e carinho entre os dois, apagará no tempo o ódio que poderia fermentar ao longo de encarnações sucessivas. Nhô Tonico recebe o moço de volta em seu lar, através da filha que lhe negara em casamento. Dessa maneira, cede seu próprio sangue para reencarnação da vítima e vai criá-lo de novo na Terra, devolvendo-lhe a vida carnal e o corpo que lhe havia roubado.
A justiça divina é temperada de misericórdia, pois objetiva o amor e não a vingança.